terça-feira, 8 de dezembro de 1992

alameda cabral




feito sanhaço
canto a manhã
ao longe

de ontem não passo
as lembranças vêm vãs...

é hoje


domingo, 15 de novembro de 1992

o porão




Nos becos, os ecos de crianças & cães,
& almas em fogo, ascendendo em cigarros.
Aos tanques, às lamúrias, as mães,
reclamando da vida, dos casebres, do barro.

Os pais, calejados, se afogam no bar,
rindo do passado, chorando o futuro.
Aos bolsos, o vazio a torturar:
- Mais um gole do amargo puro!

Se pudessem, beberiam aos jarros,
apagando, da vida, a última centelha
de sonhos cadentes, implorando um amparo.

O amanhã, nesta fagulha se espelha,
com a bala na agulha, pagando caro,
estirado ao solo, camisa vermelha.


quinta-feira, 13 de agosto de 1992

Eu & eu




Os dias passam.Tantas medalhas perdidas...
As migalhas, atiradas ao chão da vida,
alimentam o medo da estrada
e da sobriedade, outrora contida.

Em minha cela, de carne e ossos,
aflito, me engano, me escondo de tudo.
Tapo os ouvidos, torno-me mudo
: o ego cego não percebe o próprio ócio.

É. Na solidão das palavras, me divido em dois
: um, sonhador, chora e sorri, maravilhado;
o outro... Bem, o deixemos pra depois.

Ele é tão eu, tão príncipe amargurado,
tão entregue ao que entende por razões,
que uma procura para manter-se ao meu lado.