sexta-feira, 23 de março de 2001

ô, psit!




quero falar 
um tempo que, 
de tão difícil 
do próprio tempo
vivíamos à espera

tempo de quando 

na falta de respeito 
realmente nos dávamos mal

tempo de quando a coca-cola 

(assim como o direito) 
era um artigo de luxo 
: só no Natal

quando havia fila para tudo 

para o inamps 
para a carne 
para o leite 
para o gás 
para o mundo

o mundo, até ele mesmo 

corria o risco 
de também ficar para trás, às dúvidas
das crianças, como a que eu era 
de poucos sonhos 
de cabeças quentes 
com a tal fria guerra

e ninguém sabia 

para aonde se, 
e se se ia

enfim, 

o domingo chegava 
e tudo tudo parava 
pois, aos sorrisos 
íamos todos 
para a frente 
de alguma tevê
lembro bem das gargalhadas 

de todas as idades 
depois de um certo sujeito 
soltar seu bordão 
- Nojento!
 
ele era um dos tantos 

que abriam as cortinas 
e os nossos corações 
quando começava 
o sério trabalho 
daqueles mestres palhaços 
que se chamavam 
Os Trapalhões


 

terça-feira, 20 de março de 2001

insônias arrastam o fígado




no corpo da taça
todo o dia
e tudo que virou verdade
distorcidos em aplausos

(ou seria um vendedor
plantado no portão?)

NÃO
são sete horas da manhã, cara
e estou de cara
na farra d'outro vazio
às cadeiras desocupadas
douto
contemplando a dança das cortinas

meu vigésimo quarto outono
e nada de sono
nada de sonho
nada.

(- Querida noite,
muito obrigado
pelo açoite.)


domingo, 11 de março de 2001

paratis




distraiu-me, o farol
enquanto os bebês comiam
pelas beiras
do anzol

pagavam um sapo

e ainda nem tinham
escamas
no saco