quinta-feira, 16 de novembro de 1995

pequeninos




Meu ouvido esquerdo,
quase grita,
à dura impiedade,

o lamento que diga.

Que estágio é este que nos tem
onde se ama quem puder
e se salva quem não quer?

Puro contratempo.

(E quem liga
se há verdade?)

No âmago do momento,
às profundezas da convicção:
sequer eu, pensante, existo,
perante a busca
da razão
.


terça-feira, 14 de novembro de 1995

lost soul, saul's bar




Que jazz aqui,bailarina?

Veio ao solo
dos metais?

Viagem vã
: esta jam
é dos mortais.

Todavia,
se me deixar em paz,
se esquecer o tal romance,
então pedirei que fique.

Pois com a vida,
ao meu alcance,
não mais me encanto.

Agora dance
que o uísque é dose...

(gole)

...e nem tanto.


quinta-feira, 19 de outubro de 1995

velha cena de bar




Não há noite
que contenha
o roer de unhas,
o tremor das pernas,

a dose de pinga.

E ela não vem,
só a outra.
- Querida!

E me xinga.

(Devolva minha vida,
guria!

Senão,
te dou um punhado
de alegria.)


sexta-feira, 29 de setembro de 1995

ana




escreveste
com letras de fôrma
quase sem forma

ilegível

um poema 
de versos roubados
de um poema antigo

impressiona
pois apesar de cafona
,

imprescindível



terça-feira, 26 de setembro de 1995

pantomínima




argumento,
motivo do conflito
:antes não reflito,
me divido

sou perda
sou passado
sou bogart
no mesmo noir
irrevogável reverso

nem há como caminhar
pois sou pedra
jurada de vida
pelo universo


sábado, 23 de setembro de 1995

vitrinity




me dá outro chope que trânsito aquela gata você viu a vizinha me perdoa sua besta jesus está olhando me empresta dez mangos ei que cê tá fazendo chama polícia uma dose uma só mais uma liquidação entrem entre e morra

(pensando à grega
vestidos como americanos
,
o menino se matando
a menina se vendendo
&
o douto se drogando
o diabo se benzendo
:
seria a vida mesmo insana
ou nossa inércia
atingiu algum nirvana?)


quarta-feira, 20 de setembro de 1995

tema para outro poema




o momento anterior
ao virar da página
é tão profundo
quanto o próximo

: procure o sólido
no abstrato máximo
pedra
de peso flácido

(ao apagar do ápice
outro momento daqueles
nos rasos olhos de lápis)

diga o quiser ao mundo
mas antes anteceda o instante
entre a máquina a mirar
e a miragem
na estante


terça-feira, 19 de setembro de 1995

espírito




pleno
pelo
elo

o espelho

belo
livre
louvre

ave, ave!

(nas veias do texto
pretenso
pretexto
nas areias
do rosto do tempo)

& azar dos quem
nas asas
naus
quase
esauq

vêm

e não
o vêem


sábado, 19 de agosto de 1995

re-trato da noite quando jovem




quero-queros
corujas & grilos
cachorros & gatos

& o galo chamando
a lua atrasada
& os sonhos rumando
pralém-madrugada

tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac

eis que o trem
apita
apita
apita
e passa passa passa passa passa passa passa passa passa

(enquanto quando
descanso bem as caras
pra não ficar às claras
sem graça)


segunda-feira, 31 de julho de 1995

quarta-feira, 26 de julho de 1995

o sol proibido




se sombras pudessem

falar cantar
voar sonhar

longe de nós estariam

pois caminhamos
ladoalado
resistindo às tentações
privando nossos vultos
de todas
as paixões



quarta-feira, 5 de abril de 1995

utópio




não importa se o pilar
for patrícia
ou batista

,
mas que exista
de salto alto
ou de chinelos

que nasça
mesmo que pista
nas foices
no planalto

ou nos martelos