sexta-feira, 13 de dezembro de 1996

praça santos andrade, escadaria




olho para a rua
como se o nada eu olhasse
o gari até me cumprimenta

olá!

os transeuntes
figuram previsíveis
deixando tudo pior
que o making of
do pré-prelúdio
do que não foi

tiro o uísque do pacote
há quem ache que é pose
close pra foto

mas aqui vou ficar
até que ela apareça
até que eu mesmo me esqueça
de que e quem estou a esperar

!
(ela surge, descendo os degraus)

o brilho dos olhos
apaga meu texto
enquanto leio os lábios calados
na, que bobagem, calada do dia
e quando se encontram com os meus
ainda tento

mas

não há mais tempo

à agonia
ao acordar da coragem
novamente olho para a rua
como se o nada eu olhasse
como se tudo fosse
um mero ensaio

como se eu fosse um vassalo
das vontades alheias.

(não, não é sangue
tenho é cianureto
circulando pelas veias)


segunda-feira, 11 de novembro de 1996

lugar comum




notívago
vago
sem motivos

(meu sol são olhos negros)

vivo
mas não
vivo

(plagiaram meus segredos)



quinta-feira, 7 de novembro de 1996

lou.co, adj;




quem se entedia
chorando os passos
contando os dias
cruzando os braços
roendo as pernas
erguendo templos
em cavernas



quarta-feira, 23 de outubro de 1996

as ondas & as rochas




a partitura
da melodia que somos
espero que todos possam ler

cada canção
um pássaro liberto
cada sonhar
um concerto

o complemento

que nos conduz
ao compasso completo
com todo e qualquer

movimento


terça-feira, 20 de agosto de 1996

acredite, ou me mate, se quiser




"o tal do fim
não existe

existe a pausa
existe o não
existe a causa"

(e há quem parece
querer se passar por um ser amargo
e, dalguma maneira
encontrar no pranto fingido
uma verdade
sob a poeira)

ter mentido
não foi o pior

gota dágua foi não ter dito
o que não soube
e o que não coube

no infinito


sábado, 17 de agosto de 1996

quarta-feira, 17 de abril de 1996

horizonte




a cada passo
desfaço
o percurso
imaginário

em cada laço
me faço
para o nada
nada páreo



sexta-feira, 12 de abril de 1996

andarilhos




profundamente sonhados
sem dúvida de sombra
& marcados pelo sempre


somos,
da fábula,
as novas páginas

pois a todo instante nascemos
& renascemos
velozes de quando em quando

apenas

às penas

caminhando
...


sábado, 2 de março de 1996

poemerege número 667




se deus existe
ele é tudo
e está além de tudo

deus
sou & somos
eu & você

a árvore derrubada
o sopro na flauta
o veneno de uma piada

a tua falta

é o castelo do nobre
o chinelo virado
o cachorro doente
o espelho quebrado

o elo
entre o feio
& o belo

um deus que é deus
não precisa de bíblias
escritas pelo homem
inda menos de igreja
exaltando a dor & a fome
 
nem de oferendas
guerras & sacrifícios
terras & edifícios


e ele está aqui
veja!

nesse verso
no outro
e no seguinte

ele é onipresente
não por estar em tudo
e em todos os lugares
e sim por ser tudo
e todos
em todos os lugares

ele pode ter tido
muitos emissários
como sidartha, joshua
ou mohamed
mas podemos encontrá-lo
em da vinci, bessie smith
até em nitzschie

e como não vê-lo em brigitte bardot?

se ele não é isso
e todo o mais
ele não é deus

pois ele é
tudo

e está na vida
na ferida
nos ateus

no absurdo