sábado, 22 de agosto de 1998

quinta-feira, 20 de agosto de 1998

sem fechar os olhos




O haikaimikaze,
arrependido,
voltou para casa.

Até pensou em virar um tanka,
mas a página, da vida,
insiste: branca.


quinta-feira, 13 de agosto de 1998

dívida




Há uns dez minutos,
ouvi dois tiros.

Os cães trataram de latir.

O trem, os trilhos, sacudir.

Eis o mundo,
quase duas da matina

: pulsações em disparada
a vida, quase nada.
 
E o re-silêncio então

domina.


saudades de kyoto song




Eu não sei mais
o que ela
(ou o uísque)
quer dizer

nisso que dá
papo de boteco
ideografado
em guardanapo
amassado
lambuzado
de batom

, importado

(Garota:
antes tu, antes
eras eras
mais & mais

marota.)


segunda-feira, 10 de agosto de 1998

quarta-feira, 5 de agosto de 1998

dia gnóstico




doutor,
quando eu era pequeno
o sol era ameno
movido à canção
da cigarra
no pinheiro

e quando o eu era pequeno
Ela,
à lua à vênus,
já me apertava o coração
que gritava pela noite
tempo inteiro...

- sinto,
não existe remédio
pra esse tipo de tosse
: sofre de sonho
& velhice
precoce.


domingo, 2 de agosto de 1998

"Fui."




será 
que não há mesmo um jeito 
de fazê-la parar 
fazê-la olhar para mim 
e dizer

onde foi que eu errei?


pois se cometi um crime 

ele foi tão 
mas tão perfeito 
que nem eu 
dele sei 


 

sexta-feira, 31 de julho de 1998

lips, like, sugar




há tanta coisa perdida
mutações
metapoemas
papel amassado no frio da vida
...

porém
novas frases ainda nascem
quando me escondo
no estrondo
do silêncio
...

(então
ela cruza as pernas
acende um cigarro
como quem entende
se rende

logo
disfarça o pigarro
quando percebe
que não tenho dinheiro
não bebo champagne
e nem tenho carro)


 

sábado, 25 de julho de 1998

praça osório




passo pelo relógio parado 
procurando a menininha 
do braço quebrado 
que me pediu esmola

- um reá a frôr de prástico!


seu perfume

é o cheiro da cola 
também na mente da piazada 
pseudofeliz
que vai tirando a armadura de craca 
na verdágua do 


 c

    h
        a

              f
                 a

                       r
                           i
                              z

                                    !




 

sexta-feira, 26 de junho de 1998

sideral




A tua ausência
me atirou na solidão
de um imenso
buraco negro.

E, nele,
permaneço.

Não importa
para onde o tempo
queira me levar
:
não poderei tê-la,
pois ainda caminho
entre os mortais.

É certo que, apesar da poeira,
ainda vejo teu brilho.

Mas é só o teu brilho.

Pois você,
minha estrela,
já há um ano,
sem luz,

não existe mais.


sábado, 25 de abril de 1998

fun funeral




no desespero
nosferatu
pediu um espelho

foi seu último ato
pois veio o dia
e que tormento...

pó sua face
sol lamento


sexta-feira, 10 de abril de 1998

kharma




um colega meu
do tempo do primário
agora é hare krishna

tarde dessas o vi
com seus incensos
numa esquina

estava um tanto irado
pois em uma formiga
ele havia pisado

diz ele
ter pisado numa amiga
d'outra vida
d'algum passado

- o que estou fazendo aqui?

perguntou
e deixou-me
ir


terça-feira, 24 de março de 1998

quarta-feira, 18 de março de 1998

smells like old spirit




se knowledge fede
quando imóvel,

faça.

crie enquanto os cantos do mundo
(co)existem
enquanto o céu indazul

(que quando cinza
é d'armadura
nuvem)

pois de que adianta ler
joyce, rosa, kant ou pessoa,
ver chaplin ou picasso,
se o fazer for nu
num prazer enrustido
d'amargura
ou ter nervos de aço
e por tê-los
teimar ao termo
se dizer
incompreendido?

ah, vá!

já furei o pé num prego
enfiei o dedo onde não se deve
& o nariz onde não chamado

já tive um cachorro cego
ainda não vi neve
mas tenho amado

(ha ha ha ha)

na verdade
pra mim já basta
ter o medo que me afasta
de estar

parado.


quarta-feira, 11 de março de 1998

chama




fardo-mor,
soldado
:
sou o dado que se joga
e se afoga
no fogo d'tualma
no calor do desespero
onde espero
por te ver

(sou aquele que se salva
pra depois salvar

você)


sábado, 21 de fevereiro de 1998

1984




corre na chuva
foge da noite
escorrega na lama
até de rua se engana

tarde que chega
tanto que chora
quase que urra

uma triste senhora
o castiga 
com surra

mas logo o abraça
com o susto
trovão
!

essa dor
sempre passa
dor de mãe

solidão



sexta-feira, 20 de fevereiro de 1998

Spiegel




a aquariana estação
repentina
também, de repente
já se foi
&
já senti o que devia
já sofri o que sentia
já perdi o que foi pago

até encontrei o velho mago
mas não qualquer resposta
que ecoasse aqui 
dentro

pelo contrário
vi a escuridão em seus olhos
e se vi, vi sim, portal de espírito ordinário
em mútuo arrependimento

- Passado.

(boas-vindas
ao rei dos sete mares
e ao tempo de sonhar
que já invade
nossos lares)



sexta-feira, 13 de fevereiro de 1998

coisas que penso enquanto escovo os dentes




(ó, noite cheia
de lua vazia,
estou com a dúvida,
ou a dúvida comigo está?)

queixumes,
deixem-me quieto
já é sórdida a antemanhã
ela que se vá

pois
latejante
a incerteza me esmurra
se não há na memória
pronta desculpa
ou sinal de razão

só me resta
o coração, foz
onde deságua mágoa
onde perco a voz
onde tudo é 

lodo

(e a torneira
ficou aberta
o tempo todo)


despedida




f r a g m e n t o s

caem ao tempo
como as pholhas

,
        ,
                ,

mil momentos
uma escolha


domingo, 18 de janeiro de 1998

p&b




Devidamente como proposto,
o fraco ancião viu, no desgosto,
o retrato de sua vida

: certo dia, quase sem forças,
reencontrou aquela moça,
que lhe foi a mais querida.

Ela não envelheceu,
pois tinha a senha para amar
e, não, não a vendeu.

O velho saiu do sério
: mesmo antes de morrer
já estava no cemitério.

E, tendo a raiva como lema,
nem pôde perceber
que assassinou
este "poema"
.


sábado, 17 de janeiro de 1998

casa antiga




Espectral,
o vulto matinal,
sorridente,
me desperta.

Jovial,
a assustada & tal,
comigo,
logo flerta.