domingo, 16 de novembro de 2003

fabella




escorpiana
nata
navega

( noite
nua )

entre
corpúsculos & crepúsculos

enter
no crepoema descolorido

- naja -
(áspera pele
vésper à espera)
fera fera

: curare elixir, ela o x, Ela

eu, eu
presa e predador
às pedras
eu, eu


ela, Ela

navega
vaga

(lua
nata)

em flamas

(à noite
a noite
esculpe
ana)



quinta-feira, 13 de novembro de 2003

quarta-feira, 5 de novembro de 2003

gemini

 


B
L
U
E
M
O
O
N ão me venha com emboras pois
E u, bem, Eu, gostaria muito de saber de uma
V ez por todas por que é preciso
E ntender o que foi sentido se o que
R esta não conta na história
M al cantada por teus olhos dublês
I nfáliveis e esse arrependimento de
N uncas e afins e arremedos de
D ores e... adeus, volte logo!




sexta-feira, 12 de setembro de 2003

br 376




oh, sim
claro claro
que tudo que versamos
é ultraultrapassado
reinvenções
de reprises de plágios de plágios
de etecétaras e tais
para ódio dos novos neonewpós

oh, sim
claro claro
é inútil demais
minha nossa mesmice
pois
como alguém já disse
tudo já foi dito
e desdito

maldito.

(feijão com arroz
& ovos fritos)


quinta-feira, 11 de setembro de 2003

oilmerica




los sobrinhos de sam
sons of a bush
não ouviram plato
nem joshua, nem cummings
nem chaplin

e aí está
o tipo de nação
que hitler queria

: trocando sangue
por petróleo
metendo os dedos
nos seus olhos

pois é pois é pois é
aquela coisa toda
de hino & bandeira
heróis & winners
na prática não passa
d'outro disfarce
daquela suástica




terça-feira, 19 de agosto de 2003

vinho do porto

 


raios!

dei-me ao luxo
de resistir
feri como se a curasse
e se não bastasse
a fiz sorrir

raios!

pedi que não mais ligasse
e não ligou
coisaoutra

raios!

que me partam
por não ter partido
por achar coisa pouca
todo esse desamor
toda essa louca
metáforambulante

essa sina
que nada
me ensina

raios!

que caiam no mesmo lugar
descarreguem a fúria contida
(não tô nem aí)

: quebrados encantos
teimo em negar-me vida
ao cair por terra
ao ficar por aqui, ó

raios!

(re-sumindo,
faceàface,
fácil fosse,
tentei o tédio quebrar

mas quebrado foi o gelo
: sete anos de azar
para o espelho)

raios


 

segunda-feira, 4 de agosto de 2003

opus per ridiculum detortum

 


este silêncio
alguma coisa
quer dizer...

os versos acima
escrevi há alguns meses
e, na ausência de rima,
os deixei na gaveta

o silêncio ainda é o mesmo
e, apesar do apesar,
que se reinventa

sobrevivo
sobretudo
pensativo
.

olha,
não sei porque
eu voltei a escrever

deve ser doença
ou então a falta
do que não fazer



 

segunda-feira, 21 de julho de 2003

spandaemonium




o mundo todo me vigia
& ninguém me vê

: eis a idade mídia

web cams
globos negros na rua xv
nem mesmo no elevador
eu posso mexer
no meu nariz

já tenho até
um código de barras
sou produto não cadastrado
mas alvo
por satélite
seguramente localizado

(virtual até nos nervos
já penso em me desconectar)

ah,
ontem recebi um e-mail
era você
me avisando dos novos tempos
agora tão
obsoletos

: deletaram meus dedos

(mas talvez minha avó
ainda saiba de um chá
que seja bom
contra defeitos)



sábado, 28 de junho de 2003

Jhonny's Pub




podia ser
a mais fria & chuvosa
das segundas-feiras

ainda assim
sempre estavam lá
: os jovens do pré-vestiba

amontoados
nas velhas mesas
atordoados pela incerteza
poesia ou prosa?
pagando as béras
com seus vetês;

às paredes azuis, vivas
as garotas fumando
desenterrando amores
& versos de MPB

(tipo, "leãozinho"
que mais parecia
uma ode ao mé barato);

alguns cegos
que, em terra de reis
juravam ter visto
o mesmo rato
cor-de-rosa;

a Cléo Punk
que nos arrastava
para a sinuca no Bigode
(outro bareco perto dali)
é, esnuque, piá
e esnuque é pra quem pode
e eu, para ela, todas, perdi;

alguém sempre
mesmo, sempre,
falando da lua;

os estudantes
da escola técnica
exibindo suas
técnicas etílicas antes das seis
enquanto, meu camarada, o Jean
debatia com o Fábio Gadelha
astrologia, contradições
& passagens bíblicas

(o bar ficava ao lado
de um convento
toda hora ali passava, e de nós, desviava,
alguma freira);
a aranha marrom
no banheiro
onde ainda era normal se deparar
com alguma menina
de dedo na garganta
pondo para fora o vinho doce
na, sério mesmo, banheira;

gritalhões no corredor
apostando alianças
no jogo de palito
(que parecia de foices)
observados por alguns senhores
em seus velhos ritos
& sorrisos;

atrás do balcão, o João
alguns o chamavam de Gervão
(que era uma pinga que ele vendia);

então, certa semana
troquei a segunda pela quarta
e eu a vi

aquela guria

que lia Borges
ruivinha
claros olhos
longo vestido escuro
quietinha, na mesa sozinha
eu a vi

larguei as ilustrações que fazia
e levantei para falar com ela
eu ia a pedir em namoro
eu juro

no caminho,
alguém me chamou
olhei para o outro lado
era o Sid,
o sujeito que deixou o mar
a ver navios

ele me congratulou
pelos meus dezoito
completos um dia antes
e, sem jeito com essas coisas
mal eu soube agradecer

quando voltei para o caminho
que, caramba, era de uns dois ou três passos
a guria havia sumido
e ninguém havia a visto
desaparecer

pois não tinha ninguém ali
disse o Seu Branco, ou alguém
que minha memória
não quer mais
reconhecer
e eu nunca mais a vi

os dias seguintes foram frios
com noites de frieza
com perdas, tristeza
como a que levou o chapa Chaiu
ou da do Fabien, que se matou
(muitos entenderam "Fábio",
e achavam que era o Gadelha)

um clima estranho se instalou
até uma noite que o Mais Além
mandou tudo pro além
tocando Beatles
na calçada

foi quando conheci
uma namorada
que mordia minha orelha

mas a leitora de Borges,
mesmo depois do próprio Joãozinho ter morrido
do prédio onde ficava o boteco
ser demolido
do vetê ser extinto
da maioria ter parado com o vinho tinto doce
do Alexandre, o Côco
ter aberto um bar lá perto da Reitoria
e de revivermos tudo
um pouco,

ainda é um filme
centrado naquela pose
de pernas cruzadas
sandálias soltas
páginas viradas
olhar de canto
...

como ela
não se encontra

e se era um fantasma

é um fantasma
e tanto