mas que dor do lado é essa
que até me deixa com pressa
de desaparecer?
que dor é essa
que nem pisca no eletro
e que nem analisando
meus pedaços de perto
os doutores conseguem ver?
é ruim até de escrever
pois o braço dói pra caramba
à cabeça na corda bamba...
tonto
& farto de codeína
& ibuprofenos
arrisquei respirar no sereno
lá fora estava bem frio
mas o corpo, fervendo, dizia:
-
meu, tu tá morrendo...
então, um ventaço, num assovio
à lua de vigia
e só,
revirou as samambaias penduradas
e um gato branco, que apareceu
do nada
que dó
quase morreu de susto
engoliu o miado, depois de um
pulo
caiu de mal jeito
e saiu correndo de lado
ah, essa dor do lado
esse negócio
chamado peito...
(!)
se revela
o inimigo
então tiro do bolso uma navalha
(a usei para apontar os lápis)
ele gargalha
enquanto vejo de novo o gato
(maluco,
com mis em miados à capela)
"tudo bem, aceito o
veneno", digo,
e platão se cala
mas quase tropeço
no verso
e no bichano na minha perna
recupero a fala e solto
"beberei como se fosse suco
d'alguma uva nobre!", na
verdade, berrei,
e, enfim, os vizinhos e suas
luzes
foram acendendo
(seria pobre rimar com pobre,
não irei,
ainda bem não precisar)
finalmente agora que sei
do que já sabia
do impossível, é claro
e que estou de novo morrendo
bem, depois que encontrar o dono
do felino
(seria platão?)
eu voltarei para a caverna
voltarei para o meu eu invisível
e vou buscar nos meus sonhos de
menino
algum raro sorriso pra me apegar
não, não dá!
apenas o dela
é o que há
é o que há
é o que há
mas que raio de dor é essa?
pois já acho mesmo que vou
morrer
e ela não vai
passar