sexta-feira, 23 de abril de 1999

mil poetas morreram num tango




foi a prótese da palavra,
a gota dágua

: os caras de pedra
dando lágrimas à gardel
gerando tormentas

& suas nuas vidas
cristalinas
sendo bebidas
nota a nota
naquela música pura
- latina.

(um beijo
& arranco gemidos
da tu'alma menina
& ao fundo, todo o mundo
ao canto do amanhecer)

eis minha fome de amor
jam
de meus sonhos

: você você você

e nem preciso rimar com flor
eu suponho


quinta-feira, 15 de abril de 1999

mordia a língua




há muito
nada escrevo

fiquei à espera
de tempos mais gratos
do vento nas cortinas
da chuva fina
de tudo que me fizesse

real

vi a poeira
flutuante aos raios de sol
intrusos
pela janela de minhas manhãs
carentes da noite

e foi apenas um toque 
dos meus dentes
no ventre da idéia
que me fez voltar à matéria
e ver o rosto
deste engano infinito

amadureço
feito fruta cadente
feito homem

maldito

e engrandeço
toda forma de vida
qu'inda possa ser

lida


domingo, 11 de abril de 1999

ainda




trêmulo
à voz da lua
perambulo
procurando
a tua

e eis que o frio
frio me faz
entender

: certas noites
findam muito
muito antes
de amanhecer




sexta-feira, 9 de abril de 1999

ressuscitou o namorado e foi pra butique




não quero te ver na tevê
pois vou ficar com pena dos teus pais
vão entrevistá-los
perguntar por que você é assim
e assado

vão querer saber o porquê
do que você fez
e se não acredita mesmo
em deus...


(sei, sei
meu peito é uma velha jukebox
que só funciona
com moedas antigas

mas é a única que toca
a trilha sonora
da tua vida)