sexta-feira, 23 de março de 2001
ô, psit!
quero falar
um tempo que,
de tão difícil
do próprio tempo
vivíamos à espera
tempo de quando
na falta de respeito
realmente nos dávamos mal
tempo de quando a coca-cola
(assim como o direito)
era um artigo de luxo
: só no Natal
quando havia fila para tudo
para o inamps
para a carne
para o leite
para o gás
para o mundo
o mundo, até ele mesmo
corria o risco
de também ficar para trás, às dúvidas
das crianças, como a que eu era
de poucos sonhos
de cabeças quentes
com a tal fria guerra
e ninguém sabia
para aonde se,
e se se ia
enfim,
o domingo chegava
e tudo tudo parava
pois, aos sorrisos
íamos todos
para a frente
de alguma tevê
lembro bem das gargalhadas
de todas as idades
depois de um certo sujeito
soltar seu bordão
- Nojento!
ele era um dos tantos
que abriam as cortinas
e os nossos corações
quando começava
o sério trabalho
daqueles mestres palhaços
que se chamavam
Os Trapalhões
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