quarta-feira, 30 de maio de 2001

niente




Quem dera eu fosse, ou quase, um poeta, 
dos que constroem altivos sonetos, 
e não um verso em estrofe tão pateta, 
que termina querendo falar dos ventos.

Ventos que mudam, e mudam, a direção 

dos sonhos, das cores, dos lugares, 
mas mal fazem cócegas ao coração, 
afogado no mais profundo dos meus mares.

Quem me dera outras rimas, menos manjadas, 

versar sobre os tombos, escrever mais piadas... 
Mas a noite acabou, acabou de novo, e preciso dormir.

(E se eu escrevesse uma obra prima, aclamada, 

a trocaria pelos ombros de qualquer outra estrada 
que me desviasse dos futuros que já perdi.)


 

quinta-feira, 10 de maio de 2001

catedral




lá 
uns, iam para representar 
outros, para se perder 
alguns, para se encontrar

uns tantos 

queriam ver como era por dentro
tocar os santos, se orgulhar,
ou, mesmo, só para falar mal 
dos ornamentos

a criançada 

sonhava tocar o sino 
chegar perto do órgão
tentar tirar dele 
um som bem 
beeem sinistro

(parece que um menino 

que depois entrou 
na belas artes 
conseguiu 
& conseguiu também 
um safanão do pai 
ao sermão de um arcebispo)

havia um bebum 

que, se, bobear 
na mesma hora de sempre 
lá na calçada, ainda se deita 
(senão, cai)

também, como não lembrar 

da velhinha, que contava de assombros 
e que foi de tal seita 
enquanto alimentava "seus" pombos 
antes de ir para o chá

e não esqueçamos de nós 

 quase toda noite
bebendo vinho 
lá na frente

nem dos que pareciam 

parar por ali 
só para ficar 
olhando a gente 
 (e como eu ri...)

qualé a dessa moçada 

toda de preto? 
não sabem que viver de luto é errado? 
não têm respeito 
pela religião?

nada disso, nada não 

nem éramos "servos do cão" 
pois aquele lugar 
também nos era sagrado

à nossa verdade 

que escrevia 
na amizade 
a maior & melhor 
oração

aquelas noites

terem acabado 
é só o que vejo como um pecado

dos sem perdão