sábado, 6 de novembro de 2010

meu reino por um porquê!




ela queria

ah,
mas como ela queria

que eu a traduzisse em versos
que eu a transformasse em algo
como a luz do dia

que espalhasse suas pétalas
pelo branco das folhas
que falasse da lua
e, é claro, do céu azul
das estrelas,
do mar
e mais um tanto de, desculpe
blablablablá



porém,

jamais quis saber
qual, na verdade
era
o seu lugar
quem ou quê
realmente
poderia me, ou nos,
inspirar

e
sem o ins
só me fez

pirar



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

attesa per la nebbia

 


escuras
& escuras
cada vez mais

escuras

têm sido
minhas noites

circunflexas
sem estrelas
sem guia

refém dos ecos de outras
que nem vivi
&, às orelhas de burro
de um livro que não li

e reescrevi

(fossem os sonhos
publicados
quem sabe então eu veria
meus olhos beijando a cegueira
de um pretérito
sem passado
,
guria)



terça-feira, 31 de agosto de 2010

conciso?




sem siso.

tenho apenas
um indeciso
que não sabe
se nasce
ou não

(sem juízo,
& a tua boca
é
a razão)


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

de via defessus: suspirium

 


Ando cansado
de todo esse tudo
que só me leva,

& só,

ao nada.

Ando cansado
do quanto me iludo,
fazendo, do rastro deste pó,
a minha verdade,
minha vontade de ceder às vontades

& minha morada.

(Agradeço a todos
que perderam seu tempo comigo.
Peço perdão.
Por não ter sido
um bom amigo,
ou inimigo.)

Ando cansado,
e não adianta
seguir o coração,



pois anda rastejante,
escravo,
daquele querer antigo.

Ando cansado
de pensar em como eu seria
um bom amante,
ou um grandessíssimo filho da mãe
rasgando o tempo
com falas lentas
& vãs.

Ando cansado.

E o pior,
é que eu não sabia
que, se, amanhã,
eu for mesmo com o vento,
ou for alvo de um baleado

defeito,

ainda haverá a poesia.

(Mas não nas letras,
tingindo a noite
com a luz
do dia.)





 

sábado, 10 de julho de 2010

o morro, do cristo





havia um refúgio escondido
à passos sofridos
& de quase ninguém

eu sempre escorregava
naquelas mesmas
pedras todas

houve certa vez
que, à insensatez
d'algumas ondas

feio arrebentei
os joelhos
& a razão

porém
eu não desistia
pois só daquele ponto se via
o espelho
,
e então se ouvia
o choro das águas
& do coração

tonto
à tal agonia
o mundo se desfazia
só de eu pensar
em sonhar

e por quantas vezes ali eu vi
a própria vida
a se pôr
como minha cela?

(mas hoje sei bem
o porquê de ainda
gostar tanto do mar
:
é que ele tem
a cor & a dor
dos olhos dela)




segunda-feira, 5 de julho de 2010

clichê




o mesmo mês
os mesmos porquês
& a mesma
vontade

eis a insensatez
da mais pura
das impuras
verdades

(o sol de inverno
te deu um poema
mas não moderno

:
só de saudade)


sexta-feira, 2 de julho de 2010

até 2014 (ou, a próxima dança)!




os atores, baixos
decoraram tão bem a peça
que até pregaram outra

e então, o trágico
:
no verde, no amarelo
& no azul
só deu o branco

sendo assim
em uma cena
jabulânica
a laranja
não tão mecânica
deu início aos melhores passos
do vuvuzelado tango
de nosso adeus
ao caneco

lá no céu
gardel sorriu
e o nosso armando
disse, ao vazio
:
faltou o pato
faltou o ganso

& até o marreco


quinta-feira, 20 de maio de 2010

nenêologismo




- Menino, menino,
já não está bem crescido
pra andar nas costas do teu pai?
Você não pode ser tão folgado assim!

- Não, não sou folgado.
Ele é que é
papaixonado
por mim.




quarta-feira, 19 de maio de 2010

luas & bocas




eu que nunca
jamais
olha
veja bem
não sei nem
se bem que
quando
onde
o porquê
talvez
quem sabe
como eu ia dizendo
...

- Você me ama ou não?

olha, é um disco voador!

eu olhei
e ela saiu correndo



última sessão




(pensando
em todos os filmes
que ela não verá
comigo

: é como se o cinema
jamais tivesse

existido)



 

quarta-feira, 5 de maio de 2010

popmialgia




no tempo
em que a vila
era vila
& o frio
era mesmo
frio

o que não se curava com mato
sarava, no ato
com um melhoral
infantil

hoje
uma farmácia em cada esquina
uma para cada doença nova
doenças da moda, da roda
com todos os tipos de rima

(agora
lá vou eu
tomar a minha
amitriptilina)




terça-feira, 9 de março de 2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

guadalúpedes




caminho
pelo ponto final
de muitas almas

de histórias interrompidas
pelo desespero
pelo dinheiro
pela cachaça

pela vida

vem aqui, Leão!
e o homem divide
meio pastel
que pegou do chão
com o cachorrinho

outro, de rosto ferido de briga
fala que ainda dá pra ser feliz
pois ganhou um copo de vinho
de garrafão
de uns guris
enquanto,
uma senhora
vai de lixo em lixo
como se fosse
um colibri

e passa a mão na barriga
que avisa
já passou da hora

está caindo a tarde
e, pelos cantos
eles vão
em vão
se agrupando
buscando no sono
algum sonho
que os afaste
do abandono

um deles
que me observava
desde o primeiro verso
e que não consegui definir
se era homem
ou mulher

quis saber
por que eu estava ali
então, parado

e antes
que eu pudesse responder,
perguntou
em que ano estamos?

respondi 2010
e ele, ou ela
é,
meu filho ia fazer nove
jesus o levou
tinha de ser eu
tinha de ser eu
tinha de ser eu, diabo!
e vi um mapa
de picadas
em seus braços

meu ônibus chegou
e eu só pensei em agradecer
àlguma divindade
pelo que não sou

pois vi em todos aquelhes olhos
uma tela de sentimentos
outrora dominantes nos meus passos

mas, em nenhum vi a força
que me fez levantar a cabeça
e fugir de ter
até a sombra
mutilada

o motorista deu a partida
e, pela janela,
ainda vi dois meninos
e uma moça
abordando uns fiéis
que chegavam na igreja
cuja santa
também nomeia o terminal

a indiferença foi tanta
que me pareceu
que os três já eram vistos
como peças do cenário local
como se fossem outros pombos
ou viralatas

o ônibus fez uma longa volta
para então seguir seu curso
o que me fez rever
quase todos os figurantes
daquele filme
quase mudo, cego
absurdo

então, lhe pergunto
poema amigo:
o que estamos fazendo aqui
neste plano?
 
estamos vivendo
em recorrente castigo
se não me engano
decorrente de alheios
erros de gravatas

(no entanto,
por nossas escolhas
: eis a errata)

quando pensava no verso seguinte
ouvi a cobradora dizer para alguém
não tenho troco pra vinte
e o motorista berrar
meu deus!
antes de quase afundar nos freios

deixei cair meus lápis
voaram minhas folhas
& as palavras ficaram
caladas
:
uma mulher descalça
com um pequeno entre os seios
atravessava o sinal vermelho

quase que
na estrofe errada