domingo, 3 de agosto de 2014

outoninverno




o músculo errante
pelas trevas andava
sem saber
nem ao certo
como era a face
que lá procurava

batia, forte
seguindo por versos
que pareciam ser
de Dante

e quando, enfim,
a sentiu por perto
a luz o assustou
o próximo passo lhe faltou
& foi tragado por um precipício

que o condenou
ao princício
de tudo

sentiu
que era como se já pagasse
pelos pecados futuros
e foi refazendo os caminhos
abandonando cada um
dos tantos & tantos
orgulhos

se arrastou por abril
maio, junho, que quase o levou
noite vai e dia cai
noite vai e dia cai
de repente, estava em julho

e ele se viu de novo

na própria vida
sem o estorvo da ferida
sem a sombra
que sempre o trai

só então
sonhar mereceu
e mereceu se encontrar
já em agosto
já conhecendo
cada linha do rosto dela

quase a fez chorar de rir
com uma de suas tantas
tontas
histórias velhas

logo, olhos nos olhos
ele viu além do além
do que há
era o fim das andanças
e, quando ela assentiu
pôde ler, ali mesmo
no sorriso

uma carta
da própria alma
mandando lembranças

do paraíso



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