sexta-feira, 30 de novembro de 2001

estação paulo kissula




os caras de sonho
no silêncio das sete da manhã
& o cio de idéias
por um fio

seja geada
ou verão febril
nada de vozes no bonde

le monde

no voices
e vocifero por dentro
todos me olham
até a menininha, dois anos lhe dou,
gripada e inquieta 

ela parece
o único ser vivo
neste comboio lotado

e nada mais me toca
(fora o cheiro de jasmim,
aberta a porta)

todavia
quando menos se espera
a menininha
poupa-nos do fim

: o isopor
raspando vidro
dá nos outros
um troço ruim



domingo, 25 de novembro de 2001

o sal




à tarde findando
às ondas as pedras
beijando

eu&ela
apenas olhando
sob o silêncio de um céu
silencéu, digamos
que se vai e vai
de cor mudando
e mundando

até parece
que já sabíamos, há muito
e de cor
que, simplesmente
viver
é o único
único lema

(e, assim
em um piscar de sonhos
se pôs
o poema)




sexta-feira, 23 de novembro de 2001

seis em ponto




anoiteço

(essa garota
a outra também
carasmáscarasbocas
floream o ar com suas frases
de feitos & efeitos
- é um canto
& brindam
se derramando à consumação
do fato "d'alguém", aqui
ser fisgado pelo fígado, pela beleza
de um desencontro às escuras
- é um encanto)

à três, teço

(e uma terceira
que amanheceu só
n'outra mesa
quis saber a textura
de tão sereno pranto)

à nós, dois, desço




riscos




dia desses
noite viro
vide última

(suspiro)



quinta-feira, 15 de novembro de 2001

londrina




sunshine
: they form only one shadow,
the boy & the pine



oito e meia fui embora




Conhaque, pinhão,
e, no pilão,
as mãos da Maria,
a diarista.

Enquanto, da tela, Amarcord,
fugia a vista
& fugiam meus ouvidos
dos comentários & obituários
de pretensos videomakers
& otários
empunhando cigarros.

Preferi o trabalho e o cantar da Maria.

Deixei Fellini, entre outros
(que me perdoem),
também o póstumo mau humor
para outro dia,
ou para outro eu,
que então suporte
demagogia,
papo furado
& tabaco forte.


quarta-feira, 14 de novembro de 2001

labirinto




meu próximo passo
é, no máximo,
um passo atrás

ademais, o que vier,
será implícito na causa
incluso no mais ínfimo
desejo
de cova rasa

"não se meta com estranhos
e volte direto pra casa"
- refrão do sermão da mãe
dando afago aos meus pés

e piso na brasa
ao invés
de dar asas
às asas



terça-feira, 13 de novembro de 2001

segunda-feira, 12 de novembro de 2001

sinuca




ao ontem que se soma
e à fênix do novo dia
eu rogo
:
não me deixem entrar na fria
de um diploma
de ociólogo


poemáscara número zero




que sejam ilusões tudo que penso
ao menos penso
ao menos sou mais
que a breve metáfora

não, não fujo
do que ainda devo 
& não devo descobrir
são as descobertas que se escondem
no verso das páginas
ou no avesso do óbvio

mas por que indago e simulo uma reflexão sujando o branco deste tapete?

as letras o pisam, afoitas


c

       a

             e

                   m


& a tinta vai deixando
as pegadas de um vôo sem asas
sem rumo ou princípio

que sejam ilusões
:
tudo é máscara
tudo é lixo

(ou tudo é lindo
pra quem só chora

sorrindo)


pré-renúncia do paralelepípedo rebelde




Dândis no Ganges do Largo,
não da Ordem, mas do trago,
despurificam-se, queda em queda,
parindo diamantes.

Outro vinho, outros passos, mais moedas.
E outras rimas vêm, com os poréns,
idem aos cãobaleantes reféns
de suas erudições latidas.

O que queremos, indaga alguém que nem fala,
não seria fibra para nossas vidas,
nem um espelho utópico à nossas caras

: banhar-se do sujo sereno em noite rara
seduz até a mais cínica ferida
a lapidar, sorrisos, numa lágrima cuspida.




sexta-feira, 9 de novembro de 2001

o funeral de um poema inacabado




todos

(jovens decrépitos
em sua hábil
plagiarte)

nós

(rompendo com o absurdo
lambendo os beiços
na porta dos fundos)

atados
(e alguém havia soprado
que o pesadelo pode ser
bem mais brando que o sonhado)