segunda-feira, 31 de dezembro de 2001

de plantão no ano novo




Que os deuses tenham pena,
ao menos uma vez,
ou meia,
mas que a tenham.

Que a vida seja longa.
A morte, breve.

Que o sonho seja grande.
O susto, leve.

Que a sorte seja sua.
(Mas não esqueça de ninguém,
principalmente,
dos que não a têm.)

Que eu pare de escrever a esmo,
só por ter um teclado à disposição,
sem disposição
para ser mais franco,
e preencha este agonizante branco
com coisas menos coisas,
um tanto reais.

Ser obrigado a estar à toa,
enquanto o tempo voa,
pros deuses até que é uma boa.

Pra mim,
já é demais.

Nada na tevê,
nada em você.

Quanta rima não ficou pra trás?




sexta-feira, 28 de dezembro de 2001

asas




ave de rapina,
me ensina
a voar?

(a adorável ex-menina
some na neblina
...
o nunca mais
vou alcançar)



quinta-feira, 27 de dezembro de 2001

38




cheio de conversa fiada
malandro de língua afiada
malaco de lei de quebrada

teve que ouvir um lerolero
de guri encanado
até o aparelho nos dentes

não deu moral
e, ao gatilho
o guri
engatinhou...

calmaí
calmaí
eu não sabia que fulana
era tua namorada
juro que sumo da vila
que até espalho teu acerto...

e veio um silêncio
e veio um aperto
depois outro...

(ainda estou correndo
o final
n'outro tempo
te conto)




domingo, 16 de dezembro de 2001

pernas tortas




Entro n'outra
metamorfase.

Me disfarço de Eu,
mesmo,
de chute, na trave.

Sim, o grito, grave,
de gol,
adiaremos pr'outra partida.

(Para este tipo de vôo
só existe passagem
de ida.)




sábado, 15 de dezembro de 2001

fire in symbol city




cinzas
templo neo-pitagórico
verde
templo neo-pignatárico
erguendo-se dos campos
não, do campus

céus!
não, infernus!

se hoje foi amanhontem
quantos pulos deu(s)-dará
aquela mesma rã?

splash!

(pinheiros à venda na rua xv)


sexta-feira, 14 de dezembro de 2001

amanhece




não não menina
nem fique com medo
:
a solidão foi quem contou
de todos os teus
segredos



quinta-feira, 13 de dezembro de 2001

do não correspondido




se as coisas
não mudarem logo
o logo se cansa
pois o amor é tão breve
quanto fomos crianças

fúria frustada
ou bola de neve
só nos alcança
quandalgo se deve

(viro o vinil riscado
e a música insiste
d'outro lado

mas o lado de dentro
é o que se atreve
: se não muda
qualquer qualquer serve)


terça-feira, 11 de dezembro de 2001

messenger




Com um clique no mouse
ratifico meu desejo de tê-la,
ou quase,
vide vida, vide bule

: na pressa de não ferver o café
entrei numas de enter
declarando um amor que nem é

internetemente



quinta-feira, 6 de dezembro de 2001

(enquanto isso, no rádio: liz fraser)




encontramos
n'alguém, um céu
& ascendemos
ícaros que somos
cegos pelo azul
nos esquecemos
nas sombras das palavras
queimadas por um calor
que não nos pertence
que consome
nossa sorte
nossas asas
nossa fome
nosso giz
ícones que somos
para nós mesmos
- os aprendizes sem professor
aos tropeços
ou aos cortes
voltamos para casa
e destilamos
tudo o que foi
& o que seria
vivido

ao recomeço
no retorno às ruas
contamos luas
cantamos rimas passadas
paisagens erradas
verdades insanas
&, mesmo cansada
a melancolia
amplifica nossos sentidos
:
agora mesmo, é certo
às miragens urbanas
tantos de nós, perdidos
gritam um POR QUÊ?
o vazio, é certo
é vazio
mas
apenas ele pode
(e como pode...)
nos responder


quarta-feira, 5 de dezembro de 2001

jazz




Sol nas costas,
avermelha casca pálida.

E a pá,
na terra.

Paz?

(Pés juntos,
e eu nem gostava desses sapatos!

Quem me pôs essa gravata
com cheiro de barata
vai pagar caro!)


domingo, 2 de dezembro de 2001

quintas intenções




épico
o toque dos lábios
torna-se tétrico
explícita a lábia

d                    a
e                d
c            a
o      a 
t


 

sábado, 1 de dezembro de 2001

sexta-feira, 30 de novembro de 2001

estação paulo kissula




os caras de sonho
no silêncio das sete da manhã
& o cio de idéias
por um fio

seja geada
ou verão febril
nada de vozes no bonde

le monde

no voices
e vocifero por dentro
todos me olham
até a menininha, dois anos lhe dou,
gripada e inquieta 

ela parece
o único ser vivo
neste comboio lotado

e nada mais me toca
(fora o cheiro de jasmim,
aberta a porta)

todavia
quando menos se espera
a menininha
poupa-nos do fim

: o isopor
raspando vidro
dá nos outros
um troço ruim



domingo, 25 de novembro de 2001

o sal




à tarde findando
às ondas as pedras
beijando

eu&ela
apenas olhando
sob o silêncio de um céu
silencéu, digamos
que se vai e vai
de cor mudando
e mundando

até parece
que já sabíamos, há muito
e de cor
que, simplesmente
viver
é o único
único lema

(e, assim
em um piscar de sonhos
se pôs
o poema)




sexta-feira, 23 de novembro de 2001

seis em ponto




anoiteço

(essa garota
a outra também
carasmáscarasbocas
floream o ar com suas frases
de feitos & efeitos
- é um canto
& brindam
se derramando à consumação
do fato "d'alguém", aqui
ser fisgado pelo fígado, pela beleza
de um desencontro às escuras
- é um encanto)

à três, teço

(e uma terceira
que amanheceu só
n'outra mesa
quis saber a textura
de tão sereno pranto)

à nós, dois, desço




riscos




dia desses
noite viro
vide última

(suspiro)



quinta-feira, 15 de novembro de 2001

londrina




sunshine
: they form only one shadow,
the boy & the pine



oito e meia fui embora




Conhaque, pinhão,
e, no pilão,
as mãos da Maria,
a diarista.

Enquanto, da tela, Amarcord,
fugia a vista
& fugiam meus ouvidos
dos comentários & obituários
de pretensos videomakers
& otários
empunhando cigarros.

Preferi o trabalho e o cantar da Maria.

Deixei Fellini, entre outros
(que me perdoem),
também o póstumo mau humor
para outro dia,
ou para outro eu,
que então suporte
demagogia,
papo furado
& tabaco forte.